Vencer na vida importa?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Fim da Etapa Amboise

Se aproxima o dia em que trocarei a França pela Italia.

Assim como quando se aproximou a hora de deixar UK, um sentimento de perda toma conta de mim.

Tive momentos brilhantes e momentos não tão brilhantes!

Foi Cansativo e ao mesmo tempo Confortante.

Será Cansativo e também Confortante na Italia!! Me apaixonei várias vezes, percebi que as mulheres francesas tem o contorno dos lábios mais perfeitos, mas o sorriso não é tão belo! rs

Vi pessoas das mais variadas personalidades, em exercícios de sobreposição consegui visualizar todas em situações semelhantes no Brasil. Acho melhor explicar o que vem a ser esse exercício! rs

Sempre achei que a melhor forma de explicar é por exemplo, portanto vou dar um agora.

Em um determinado dia enquanto eu comprava presentes para minhas sobrinhas percebi que um turista, provavelmente americano a julgar pela vestimenta e empáfia tentava ganhar alguns créditos com a atendente Alexia(soube o nome dela depois), falando sobre o trabalho dele, o que ele costuma fazer nos EUA, etc. Ela mantinha a educação, mas em suas respostas percebi apenas o absolutamente necessário para tratá-lo de forma educada e profissional. Ele foi se cansando de ser discreto e começou a dar informações diretas de suas intenções, ela apenas sorria. Ele já se sentindo menosprezado passou a ser rude, mas sem ser grosseiro, selecionou alguns itens, e sem palavras além das necessárias pagou e se foi.

Depois que ele se foi, a Alexia veio me atender, eu sorri com simpatia, fiz algumas perguntas sobre alguns produtos, e pedi uma blusinha pra minha sobrinha de 10 anos, ela me mostrou uma que era simplesmente perfeita, mas era pra uma criança de 10 anos pequena, eu disse que minha sobrinha tinha o mesmo gene do crescimento que eu, e que era da altura dela(Alexia tem 22 anos).

Ela fez um gesto de descrença mas enquanto fazia esse gesto mudou seu olhar e me olhou diferente. Calma, não foi diferente do tipo quero você! rs. Foi diferente do tipo agora te vejo, antes você era um cliente(número), meu trabalho, agora você é uma pessoa.

À partir desse momento a nossa conversa foi interessante, e agora eu sei que ela nasceu em Amboise e acabou de voltar da Inglaterra onde aprendeu inglês, o que lhe permitiu conversar com o americano, mas ela me confessou que nem se importou com as investidas dele.

Agora a comparação:

O Americano é o cara que por ter dinheiro ou alguma outra coisa que o faz pensar ser diferenciado, acha que consegue tudo o que quer, tem a audácia de paquerar quem ele bem entender e se sente ofendido quando o objeto de desejo o ignora, como se ele pensasse: Quem ela pensa que é pra me ignorar assim. Acho que vão concordar que no Brasil isso também acontece.

Ela é a pessoa que trabalha em contato com outras pessoas e no entanto não enxerga pessoas, enxerga TRABALHO. Não acho que isso seja errado, isso apenas me deixa triste.

Dois dias antes desse acontecimento eu estava em Paris com 2 Brasileiros que conheci aqui em Amboise, e fomos passear no Centro pompidou, onde estão obras de artes dos principais artistas do mundo.

Chegando lá vimos na praça em frente ao museu, um aglomerado de pessoas que assistiam a pequenas apresentações de artistas de rua. Nem preciso dizer que não entrei no museu e fiquei vendo as apresentações. Que foram magnificas, tinha um mimico, um acrobata, um palhaço, e um mágico.

Nos intervalos das apresentações, ficava apenas ouvindo as diferentes linguas que eram faladas ao meu redor, e percebendo as reações das pessoas.

Tive então o melhor momento da minha viagem, pelo menos até agora.

Um sentimento perfeito, de sincronia, como se tudo que estava acontecendo, estivesse em perfeita sincronia com meu ser, impossivel descrever, quando estiver aí eu tento com mais palavras, quem sabe até com o poema que estou terminando sobre essa tarde mágica. Por enquanto fica a foto acima, que tirei em um desses momentos de harmonia.

Tem outras fotos interessantes que coloquei no facebook, tem a foto do artista agachado, mas não foi esse momento que tentei captar com a minha lente, o que tentei captar foi a curiosidade humana na expressão da pessoa à esquerda do artista. Se tiverem a curiosidade de entrar no meu facebook e ver a foto, reparem como ele esta perplexo, não com a beleza da obra, mas como o artista deu vida à essa beleza, ele se pergunta como é possivel alguém conseguir fazer algo assim.

Quando os dois saíram estupefatos de tanta beleza em quadros, me contaram tudo o que viram, e me disseram que eu havia perdido a melhor parte de passeio, obras do Picasso, do Matisse, etc. Eu apenas sorri e dise que eu tive uma tarde maravilhosa, e que me havia acontecido algo maravilhoso. E me perguntaram se eu havia falado com alguma mulher e marcado de encontrar no hotel!! kkkk

Eu pensei isso seria bom, ou melhor muito bom, mas não maravilhoso!!

Eu apenas sorri e disse que não era nada disso e não tentei explicar.

Posso afirmar apenas que depois dessa viagem, meus sonhos são mais frequentes, mais vívidos, mais claros, e não posso deixar de dizer mais esclarecedores.

Eles ainda tentaram me convencer que o melhor estava lá dentro. Até que eu percebi que seria melhor dizer que sim, e que eu achava uma pena eu ter perdido, etc.

Mas no fundo eu queria explicar que eu não queria ver obras de arte escolhidas por pessoas que eu não conheço, expostas da maneira que eles querem , na sequencia que eles querem, ao invés de poder ver obras de arte enquanto elas acontecem, com os artistas responsáveis por elas.

Mas seria difícil, portanto eu nem tentei.

Estou na Dúvida se termino com um aforismo, ou com a continuação da campanha da postagem anterior!! Faço as duas coisas!! rs
Campanha não vençam na vida!! ´
Hoje ganha o auxílio do exemplo da Alexia, de Amboise. Quando eu me despedi dela, ela disse que tinha sido interessante conversar comigo, eu lhe disse que foi quando ela deixou de me ver como clente, e passou a me ver como pessoa, lógico que ela fez cara de ué!! kk
Eu pedi pra que ela pensasse nisso, e toda vez que fosse atender alguém olhasse nos olhos da pessoa.
Ela sorriu, disse que eu tinha razão e disse ainda que se lembrou que tudo mudou quando ela me olhou nos olhos!! É diferente, eu sei disso e agora a Alexia sabe disso, pra quem mais vocês vão contar???
Para o aforismo:
E a frase é antiga mas nunca seu sentido me falou tão alto:

Sensibilidade é um dom!! Apreciá-la, um gesto de carinho!! Entende-la, bom .... isso já requer uma boa dose dela mesma!!!

quinta-feira, 15 de julho de 2010


Atendendo à pedidos aqui vai mais uma postagem.

Agora que estou mais acomodado, ou seja sem me locomover tanto como no primeiro mês, posso analisar com mais cuidado as coisas que acontecem ao redor.

No último final de semana fui passear mais ao norte da França, com amigos que fiz na escola, todos brasileiros, e chegando na estação de trem de Amboise vi uma mãe aos berros com seu filho que deveria ter no maximo 3 anos, aos berros mesmo, como eu apenas havia visto aí no Brasil, e eu sempre atribuí a falta de educação apropriada e pensava ser um gesto grosseiro que apenas pessoas sem articulação utilizariam.

Isso em uma cidade pequena que emana cultura eu não esperava.

E eu estava errado, como várias vezes antes, e admito que estava errado.

Isso também acontece aqui, infelizmente.

Bem, continuando a viagem, entramos no trem e fizemos algumas conexões para chegar até Saint Malo, uma cidade linda, caminhamos por alguns minutos até chegar na cidade que fica entre os muros, isso mesmo a cidade fica dentro de muros que estão lá desde a idade média, simplesmente fantástica, linda e velha.

Comemos em um restaurante chamado Lyon D'or, detalhe, já era meia noite, e ainda não tínhamos onde ficar, fomos procurar estadia depois da refeição, quase não encontramos.

Na manhã seguinte ao conversar com a recepcionista(linda) sobre coisas a se fazer em saint malo, avistei um folheto de Guernsey e fiquei atônito.

eu adoraria conhecer, quando comentei sobre o lugar com a recepcionista, ela disse que valeria a pena conhecer pois o lugar é mesmo muito bonito. Fiz um comentário sobre Victor Hugo, pois lá se passa a estória de Gilliat o personagem de Os Trabalhadores do Mar. A recepcionista desconhecia a estória, e me disse que só leu os poemas do Victor Hugo porque era leitura obrigatória na escola!! Buááááaáá....

Sem comentários, quem me conhece sabe pra onde a conversa foi.

Bom, saímos do hotel, caminhamos um bocado até a praia, e com exceção da areia que não era tão bonita, a praia de um modo geral não deixava a desejar em relação às praias que eu conheço no Brasil.

No final da caminhada ficamos em um bar acima da praia, de onde pudemos ver a maré subir e encobrir quase toda a praia, chegando mesmo a tocar o muro que cercava o bar.

E no final do dia de sol, que aqui é as 21 horas, pudemos observar um lindo pôr-do-sol.

No dia seguinte fomos até o monte Saint Michel, simplesmente lindo, porém cheio de turistas de todas as partes do mundo, subir a estreita ladeira até a entrada da abadia, foi ter uma noção do que se passou na Torre de Babel. Ao entrar na Abadia, havia uma missa sendo celebrada, uma sensação fantastica, órgão e coral, e tudo o mais que uma missa deve ter.

Não pude deixar de pensar qual o efeito disso tudo em mentes medievais, detalhe que não posso deixar de contar, a Abadia existe desde o século X.

Beleza à parte, vem a minha consideração sobre tudo, não só esse lugar, como os lugares que visitei de um modo geral.

É um lugar dedicado ao turista, todos os turistas tiravam fotos de tudo, como se fosse a coisa mais importante do mundo, como se eles precisassem das fotos para provar que estiveram na França e foram até aquele local. Pura ingenuidade, eu acredito que visitar pontos turísticos não lhe dá direito de dizer que visitou um país, ou um lugar que seja.

Pois o ponto turístico não lhe da o sabor do lugar.

Me senti no lugar, quando ao esperar o trem para voltar dei uma volta nos arredores da estação e conversei com um rapaz que sentado, bebia uma cerveja e comia uns petiscos.

Começo a achar que os pontos turísticos são invenções de pessoas mal intencionadas. Foram criados para que as pessoas viajadas tenham a idéia errônea de que conhecem algo além da sua cultura, e possam dizer, mas eu tenho autoridade para falar da França, já estive lá, veja tenho fotos da Torre Eifell, de Saint Malo, do Chateau do Da Vinci em Amboise.
E como passam todo o tempo em lugares turísticos não conseguem conhecer a cultura local e realmente expandir seus horizontes.

E eu pergunto à essas pessoas, você esteve na França? Ficou quantas horas sentado em um banco de praça observando mães passeando com os filhos, casais de namorados conversando, amigos que passam pra pegar o ônibus do outro lado da praça??

quantas vezes você puxou conversa com um velho que se sentou no banco pra descansar??

Se a resposta for negativa a conversa sobre cultura internacional se encerra imediatamente.

Eu fiz isso, e cada vez mais me convenço de que não estava no lugar errado, eu estou na época errada.
Em postagens anteriores eu disse que baguá tem em todo lugar, algumas vezes no Brasil eu havia dito que sabia que aqui na Europa também tinha baguá, mas eu não sabia que eram tantos. Eu literalmente tive que ensinar história da França pra uma garota, garota não, mulher!! Ela tinha 22 anos, nunca tinha saído da França, e achava meu nome muito estranho. Tive que he contar que Kleber foi um General Francês na época de Napoleão, só o terceiro no comando, o que o qualificava para ficar no lugar de Napoleão em caso de necessidade. É o mesmo que não saber quem foi Costa e Silva no Brasil, etc.

Começo a achar que o Jordan Maxwell esta certo quando diz que existe um plano para " emburrecer" a humanidade.

Mas ainda tenho esperanças, na Segunda a noite já de volta a Amboise, fomos a um bar do lado do rio, e do outro lado do rio o Castelo de Amboise, simplesmente o melhor bar que já estive até hoje, mas isso não vem ao caso, altas horas da noite, restando no bar só os mais fortes pra bebidas, 2 brasileiros e 1 suíco, todos frequentam a mesma escola, o suiço, um jovem de 25 anos de idade, roupa de metaleiro, cara de metaleiro e que veio ha 3 semanas, sem falar nada de francês, pois queria uma segunda lingua, detalhe, ele estava bêbado, logo o Francês dele estava mais sofrível que o meu, eu comentei que ele era corajoso por fazer isso, pois o francês é bem diferente da lingua nativa dele que é o alemão. Ele disse que achava difícil, mas que não era nada demais, aí olhando nos meus olhos, ele disse que era muito mais difícil para os japoneses, pois não só a lingua tanto oral como escrita são diferentes, mas principalmente a cultura, e por tal ele respeitava demais os japoneses da nossa escola.

Nesse momento eu vi uma fagulha de humanidade nos olhos dele. Ele estava emocionado, e eu também me emocionei.

E essa fagulha me deu esperanças novamente.

Essa percepção de diferença cultural e o respeito por ela é o que falta na maioria das pessoas.

É o combustivel para a sabedoria, não para o conhecimento, pois conhecimento qualquer um pode ter, a humanidade como motivo para o conhecimento leva à sabedoria.

Hoje vou terminar com uma campanha e não com um aforismo.

Não vençam na vida, isso qualquer um pode fazer. Seja humano, olhe nos olhos das pessoas e diga o que você pensa e não o que as pessoas esperam ouvir!!